quarta-feira, 5 de junho de 2013

QUE SAUDADES...

Cena final da vinheta de abertura
da programação
Hoje completa-se 30 anos do primeiro pouso um "M" voador no edifício projetado por Oscar Niemeyer, na Rua da Glória 744. Há três décadas a trajetória do imigrante ucraniano Adolpho Bloch atingia seu ápice com a estreia da Rede Manchete de Televisão. Era o que faltava para completar seu império de comunicações, iniciado a partir de uma gráfica e, em 1952, com a Revista Manchete.

É um dia em que milhares de ex-baixinhos se lembram de onde Xuxa veio e, sozinha num palco sem nave e repleto de crianças, construía seu reinado. Também não se esquecem de um anjinho loiro, com uma pinta na perna, que brincava às tardes num clube inesquecível. Ela não estava sozinha. Trazia consigo as aventuras de heróis japoneses, que povoam o imaginário de muito marmanjo atualmente.

Como era gostoso o carnaval... Uma cobertura com a cara do Brasil, com a cara do Rio, com a cara do povo. Dos desfiles na Marquês de Sapucai, aos bailes nos clubes e o glamuroso concurso de fantasias. Ampla, alegre e completa, que sempre deixava um gostinho de "quero mais", saciado nas bancas de jornais pela sua irmã impressa.

Quanta comunicação, e quantos comunicadores nasceram ou foram para lá. Raul Gil, Clodovil, J. Silvestre, Bruna Lombardi, César Filho, Claudete Troiano, Beth Russo, Astrid Fontenelle, Otávio Mesquita, Sérgio Mallandro e muitos outros.

O sonho da "volta"

E foram tantas histórias contadas. De escravas a pantanais, passando por tocaias, pela Amazônia, banhando Beijas, brilhante como um raio e estrondosa como um trovão. Muitas figurinhas nasceram lá e hoje seguem contando e fazendo história em outras janelas.

Adolpho Bloch, pai de Manchete
Aliás, como alguns definem, a TV é uma janela para o mundo. E a informação de qualidade, completa, objetiva também tinha seu espaço, e privilegiado. Eram horas e mais horas em que uma trilha de video game prenunciava os conflitos reais dos homens, os avanços da ciência e tecnologia, explicava a economia em tempos finais de ditadura, Sarney, Collor, Itamar e FHC. Vivemos tempos difíceis, mas já passamos por coisas muito piores.

O aniversário de alguém querido, que deixou boas lembranças, em algum momento vai ter este lamento-título. A "TV do ano 2000" não chegou nem ao fim de 1999. Se viva fosse, seus funcionários, artistas, jornalistas, colaboradores e telespectadores estariam comemorando o aniversário de 30 anos. Uma história de lutas, conquistas, decepções, tristeza, descaso e sucesso hoje é recordada por milhares de fãs que acordavam cedo para ver em suas casa um "M" voador iniciar um novo dia.

Embora haja quem queira que a Manchete volte, e não são poucos na internet, isso não é totalmente possível na prática. Não será a mesma coisa. A emissora era uma grife, um diferencial de ousadia e qualidade milionárias, que a matou (e com isso gerou centenas de processos trabalhistas, que andam mais lentos do que tartarugas) mas que marcou os corações dos brasileiros que assistiam a Rede Manchete de Televisão. Que saudades, Manchete... Que saudades...

Curiosidades:
  • A Rede Manchete contou com a consultoria de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. O então vice presidente operacional e criador do padrão Globo de qualidade atendeu a uma ordem de seu patrão, Roberto Marinho. Bloch não entendia de televisão e foi aconselhado por Marinho a não se envolver nesta área, mas aceitou ajudá-lo. Os dois empresários eram amigos de longa data. A consideração era tanta que as Organizações Globo não investiam em revistas semanais em respeito ao pai de Manchete. Quando ganhou a TV, Adolpho garantiu ao dono da Globo que não faria novelas, em troca do auxílio de profissionais globais para a implementação da nova rede. Mas experimentou pequenas coisas com teledramaturgia e gostou do resultado. Quando cismou em fazer novelas, nunca mais voltou a falar com Roberto Marinho. Anos depois, já com a emissora afundada em dívidas, o dono da Manchete resolve pedir socorro ao amigo. Marinho nem quis ouvir o que Bloch tinha a dizer. O empresário ucraniano saiu sem ajuda e sem amigo. Este relato está escrito no livro "Os Irmãos Karamabloch" (Companhia das Letras, 2008), do jornalista Arnaldo Bloch, sobrinho neto de Adolpho, indispensável para quem quer saber mais sobre a trajetória de toda a família Bloch.
  • A vinheta de abertura e encerramento da programação (veja no vídeo abaixo) marcou tanto que foi construído o logotipo prateado da emissora, e colocado no alto do Edifício Manchete. Diferente do vídeo, o "M" ficou posicionado do lado direito do prédio, destinado às emissoras de rádio e TV do grupo Bloch. No outro lado ficava a Bloch Editores.
Agradecimentos: redemanchete.net e AARS







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